Às vezes parece que eu não vivo, eu jogo. Um jogo que eu mesma não conheço as regras e nem os participantes. E parece que quando eu chego ao fim, esqueço a senha. E perco a partida. Como em um baralho que mesmo que você tenha muitos pontos nas mãos o que importa são os que estão na mesa, e se o outro bate primeiro o jogo, você perde. Porque os infinitos pontos que você juntou nas mãos não valem de nada, não valem enquanto só você vê.
Assim sou eu quando não me mostro. Não adianta ser, só pra mim, escrever para mim. Não adianta planejar o que vai ser e nem o que vai dizer se não o fizer. Não há de ter nenhum valor. " Onde está você doce menina?! Que não se encontra, nem se perde pelo caminho distante..." imaginou sem dizer a ninguém. As suas dúvidas eram seus segredos. Dificilmente falava neles com outra pessoa. Por menores que fossem seus medos, eram os seus medos. Ela era egoísta com as coisas que juntou pela vida.
"De onde você vem? Para onde quer ir?" Percebi que não tenho contéudo textual, nem conheço teorias que possam servir de embasamento para as coisas que escrevo. Só tenho a mim e aos meus sentimentos. Confusos, incertos, dotados de humanidade até o último suspiro e amedrontados, como um filhote de gato que foge quando vê uma mão estranha se aproximando. Eu sei de onde eu vim, mas ainda não sei para onde quero ir.
"Assim que ela chegou reparou em uma janela , sempre aberta. Podia ver que era uma janela comum, mas que ir rumo ao desconhecido. Quem viveria do outro lado? Ela ia descobrir. Vez ou outra via vultos, pele, sombras. Quem se mexia? Por que não se mostrava? Será que não me via? Respirei fundo, me preparei e assobiei. Assobiei forte, fui ao máximo dos meus pulmões. Nenhuma resposta. Mas, depois de doze tentativas durante o decorrer do dia e da noite, um assobio ecoou, e não era o meu. Finalmente a prova que eu precisava para comprovar que havia alguém do outro lado. Certa noite, a janela se encontrava totalmente aberta, a luz acesa. E aquele contato com o desconhecido assustou-a. Dias inteiros se passaram daquele primeiro contato...até que trocaram palavras. Frases inteiras...sotaques dieferentes. De onde vens,nobre cavalheiro?! De terras distantes...E como aquelas histórias de livros com páginas amareladas começaram a contar suas vidas. Ainda com receio e com certa dificuldade. Nem tudo que diziam era compreendido pela outra parte. Mas mesmo assim se ouviam. Decorou aquelas histórias contadas. Analisou movimentos. E tentou conhecê-lo e convencê-lo a conhecer ela também. Todos os dias a janela se abria e trocavam palavras...até que chegou o primeiro contato de pele. Quem és tu nobre cavalheiro? Ela ainda não sabia. Mas não conseguiu prosseguir a exploração de terras alheias...recuoou. Dois passos para trás...e a janela nunca mais se abriu. Quem és tu nobre cavalheiro? Alguém que ela não iria conhecer. A janela inerte a qualquer movimento do outro lado, ela não iria assobiar de novo."
..."eu mesma, no íntimo, sou bastante comum."

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